Melhores amigos

A rotina dele poderia ser a de qualquer pessoa: acordar cedo, ir à academia, voltar, trabalhar, ir para a faculdade, voltar para a casa e recomeçar tudo de novo.

Todos os dias, com exceção dos finais de semana, eram essas as coisas que ele fazia. E era assim que ele pensava que as coisas aconteceriam até, finalmente, chegar o tão aguardado dia de formatura.

Porém, logo no começo do ano, algo nem um pouco extraordinário aconteceu: ela apareceu.

Não era extraordinário ainda, é importante dizer, mas logo seria...

Ela apareceu como quem não quer nada — mesmo porque nem ela mesmo sabia que tinha aparecido na vida de alguém e que, consequentemente, alguém também havia surgido em sua vida.

Não foi numa troca de olhar, num esbarrão ou qualquer outro clichê que o "destino" unira os dois: foi por causa de ele mesmo que, quando a viu, resolveu cumprimentá-la — ele era assim, aliás, ele sempre havia sido assim: um antissocial com uma raríssima habilidade de fazer amigos.

Ela, vítima óbvia de um assombro comum aos que são abordados por desconhecidos na rua e ele simplesmente querendo aproximar-se de ela.

A conversa foi curta e rápida — não havia sinal, mas havia tempo e ele continuava a correr.

Uns dias passaram-se sem os dois se encontrarem novamente — quem é míope sabe da dificuldade, embora usando óculos, de se reconhecer rostos. Ele tinha medo de abordar a pessoa errada, mas mesmo com a pouca lembrança que tinha dela, havia resolvido abordar o rosto que mais se parecia com ela.

Na lata! E assim os dois voltaram a se falar.

Conversa vem, conversa vai, uma amiga, depois, o aborda e pergunta: "quem é ela?" e ele responde: "uma nova amiga" e ela, novamente: "mas eu achei que vocês estivessem ficando" e ele "por quê?"

O fato era que, para quem estava de fora, via um casal e não dois colegas ou amigos — ainda que não estando juntos de fato ou mesmo se abraçando ou se beijando.

As coisas começaram a tomar outro rumo.

A lembrança das perguntas que a amiga havia feito a ele não o perturbavam e, para todos os fins, ele e ela ainda eram amigos, somente. Contudo, a amizade, ainda que sem motivos, começou a andar sobre outros trilhos: aos poucos os dois já se davam longos abraços; ela repousava sobre sua cabeça e os corações de ambos começavam a bater com mais força quando um via o outro pelos corredores daquela universidade.

Foi então que, sem mais nem menos, o "grande dia chegou" e finalmente os dois se beijaram — não como quem diz "eles ficaram", mas simplesmente um casal que já estava junto há muito tempo e não sabia disso.

Ninguém mais tinha dúvida do namoro dos dois, a não ser eles próprios.


Mas dai a tecnologia deu uma forcinha e ela, mesmo sendo tímida, resolveu mostrar o veredicto:

— Boa noite! — Despediu-se ela após uma longa conversa.

— Boa noite! — Despediu-se ele.

— Ah! Tem uma coisa que eu esqueci de dizer e estou já faz tempo para te contar.

— Que coisa?

— A gente está namorando, viu?

E foi assim, sem mais nem menos, aliás, sem pedido algum, que os dois finalmente tornaram-se um casal; um casal que, como quem quer viver para sempre junto são, antes de mais nada, melhores amigos.

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